O querer escrever tornou-se violento, as palavras não se
conjugam e os sentidos atropelam-se num apertado silencio que sufoca o mais
pequeno desejo.
Dizem que aprendemos com o passar do tempo, que o nosso
caminho é feito passo a passo. Que tudo surge num determinado momento, por uma
determinada razão. Mas, e se carrego este duro peso por precisar de provação?
Sei bem o quanto há a mudar em mim e nos meus passos, sei bem os quão sós se
sentem os meus desejos, de crer mais e melhor mas que acabam mesmo sós, por não
conseguirem ser acompanhados pela Acção de mudar.
Há muito tempo que não me sentia tão aconchegada a escrever,
este meu cantinho está a moldar-se a cada traço de mim, este cantinho cada vez
mais é meu. Mas, a solidão do meu espaço faz tanto eco nos meus pensamentos que
me assusto e abro logo a janela, para me lembrar que há demasiada coisa
importante lá fora… Onde preciso ir e de preferência sem medos.
Acho que é isso, este tempo é de luta e protesto contra os
medos que existem em mim, medos que vivem na sombra e no mundo acima da
realidade.
Quando me deixo perder na razão, entendo que o vazio também se
constrói e eu própria o construo ao recear caminhar nestas novas ruas, que já
deviam ser minhas há mais de um ano.
Não é tarefa fácil para o ser humano admitir culpa no seu próprio
fracasso, normalmente torna-se sempre mais fácil culpar os meios envolventes, o
tempo ou que resta dele; , as pessoas ou atitudes; o trabalho ou a falta dele; a sorte ou o que
lhe chamam. Mas na verdade, o fracasso ou a sensação de fracasso vem da
incapacidade de atingir os NOSSOS próprios objectivos, de ultrapassar-nos em
determinado ponto em determinada altura. Advém da falta de sentir a sensação de
acordar ansioso por mais um dia, assim como a desejada possibilidade de
adormecer realizado. Tudo isto é fracasso pessoal numa vida cheia do que poderá
ser.
Ella.